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quinta-feira, 19 de novembro de 2015

ESPAÇO CONVIVÊNCIA ANTÔNIO JUSTA MARACANAÚ – CEARÁ



Maria Eleny de Freitas
Histórico

Em Dezembro de 1942 é inaugurada a Colônia de São Bento, onde, logo depois passaria a ser denominada de Colônia Antonio Justa. Homenagem póstuma prestada a este médico sanitarista por seus valorosos serviços prestados ao combate à hanseníase, nas primeiras décadas do século XX. Situada em Maracanaú, esta colônia estava destinada a abrigar cerca de 500 doentes do mal de Hansen, “dispondo de excelentes terras para a agricultura e pecu- ária, contando com um grande açude de capacidade para 6 milhões de metros cúbicos, um extenso canavial bem tratado, pomar e cuidadosas instalações para a criação de aves e outros animais de pequeno porte”.

Segundo manchetes de jornais do período, em relação à construção desta colônia: “esse fato representou uma das maiores realizações de alcance verdadeiramente patriótico com que o poder público poderia dotar o Ceará...”.

A Colônia Antonio Justa seguiu a mesma ordem padrão de divisão dos espaços, praticada nas demais colônias espalhadas pelo Brasil, obedecendo a um rigoroso critério de isolamento. Desta forma, a grande área ocupada pela colônia ficou dividida em três zonas: sadia, intermediária e doente. Na zona sadia encontravamos as habitações destinadas ao Diretor e aos funcionários administrativos. A zona intermediária era constituída pela portaria, posto policial, pavilhões administrativos e de observação, residência dos enfermeiros e das Irmãs Terceiras Capuchinhas, responsáveis pela assistência aos doentes.

As instalações da leprosaria propriamente dita, encontravam-se na zona doente composta por: parlatório, onde eram realizadas as visitas; casa de recepção e vestuário, capela e dispensário geral; cozinha e refeitório; e o pavilhão de diversões, onde funcionavam salas de jogos, cinema e teatro. Havia ainda um pavilhão para solteiros, outro para solteiras, um para as crianças e outro para casais, estabelecendo assim uma separação dos corpos como 44 Cadernos do Morhan estratégia de vigilância e controle, segundo Sr. Raimundo Severo, remanescente do isolamento desta colônia.
A inauguração da colônia se deu com essa estrutura. Futuramente seriam construídas as casas para oficinas, escolas, prefeitura, prisão, casa para pensionistas, forno de incineração, necrotério e cemitério, instalações que compunham a planta original.

No início foi ocupada por apenas seis pacientes (dentre eles Sr. Manoel Jacinto e Lolô, que ainda residem por lá), sendo também utilizada para o aquartelamento de tropas.

A partir da década de 80 a colônia passa por diversas transformações, principalmente devido à presença do MORHAN, que se mostrou grande aliado ao combate à hanseníase e ao preconceito sofrido pelos portadores de doença. Um momento de destaque desse período foi à derrubada dos portões de isolamento (não tem registro oficial), que teve um significado simbólico para os moradores da colônia bastante expressivo, apesar de ter favorecido uma ocupação desordenada e indevida, reflexo dos problemas sociais que enfrentamos constantemente.
Durante a década de noventa têm início às discussões acerca da reestruturação da Colônia Antonio Justa, envolvendo a comunidade, religiosos, técnicos do estado de diversas áreas, técnicos do município e o Morhan. Finalmente, através do Decreto-Lei n° 23000-9, de 12 de janeiro de 1994, fica estipulado que “O Hospital de Dermatologia Sanitária Antônio Justa passa a funcionar, doravante, como Unidade Hospitalar de Reabilitação, com a denomina- ção específica de Hospital de Reabilitação Antonio Justa...”.

Propõe-se então a discussão de um desdobramento do decreto e elabora-se o Projeto Hajusta. Cuja prioridade básica era o resgate das perdas sofridas, tanto pelo município de Maracanaú no seu processo de urbanização desorganizada, como pelos usuários no processo de isolamento compulsório. A área deveria ser transformada em um bairro de Maracanaú onde teria como prioridade básica, a boa qualidade de vida dos seus habitantes. Contudo, a reestruturação da Colônia Antonio Justa na gestão que teve início em 1995 não foi uma prioridade e nada foi feito a esse respeito.

De 19 a 21 de abril de 2005 foi realizado o I ENCONTRO DE MORADORES DE ANTONIO JUSTA, promovido pelo MORHAN em parceria com a Secretaria de Assistência Social e Cidadania de Maracanaú, com o objetivo de “sensibilizar as autoridades municipais, estaduais e federais dos poderes executivo e legislativo, para o problema relativo” a reestruturação de Antonio Justa; bem como discutir a atual realidade social e achar caminhos que levem a uma sociedade digna e justa. E foi através deste encontro que eu tive a oportunidade de conhecer a Colônia Antonio Justa.

Os dados aqui relatados foram retirados de documentos do MORHAN estadual, jornais, periódicos e das poucas referencias bibliográficas encontradas nas bibliotecas públicas do Ceará. Infelizmente os únicos documentos existentes no hospital são os prontuários dos pacientes, arquivados em arquivos próprios, mesmo que em precário estado de conservação, ainda pode-se encontrar os registros de todos os pacientes desde o 1º interno. Alem dos prontuários pode-se encontrar algumas fotos distribuídas pelo hospital que retratam a estrutura original da colônia. Alguns prédios perderam completamente as suas características originais, seja por reformas que descaracterizaram a construção original, seja pela depredação por parte dos novos moradores, oriundos das invasões.

Hoje Antonio Justa é um bairro de Maracanaú que sofre vários problemas sociais e de infra-estrutura, tendo em vista principalmente a ocupação desordenada ocorrida a partir da década de 80. Ainda residem por lá cerca de 20 remanescentes do isolamento.


fonte:http://www.morhan.org.br/views/upload/caderno_06_acervo_BAIXA.pdf

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