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sábado, 24 de março de 2018

POR MAIS MARIELLES E MENOS GORETES NA POLÍTICA




Marielle Franco e Gorete Pereira. Em comum, o fato de serem mulheres e terem ingressado na carreira legislativa. De resto, um abismo separa as duas figuras públicas. Marielle, brutalmente assassinada há pouco mais de uma semana, era legítima representante da nova política, com forte atuação em movimentos sociais e real engajamento nas comunidades historicamente excluídas e sem voz. Morreu lutando por aquilo que acreditava, denunciando as atrocidades cometidas nas favelas cariocas.

Já Gorete Pereira tem relação direta com as práticas, digamos, mais tradicionais do fazer político. Prioriza as demandas de seus colégios eleitorais e costuma apoiar quem está no poder. Não se notabilizou por defender pautas de grande relevância nacional. Em mais de uma década de mandato na Câmara dos Deputados, não se tem notícia de projeto, originalmente seu, de grande alcance a ter se tornado lei.

Mas, não é a relevância da atuação parlamentar de Gorete Pereira que merece destaque no momento. Ela apenas ilustra o gesto da deputada cearense ao comentar a execução da vereadora carioca Marielle Franco, em vídeo nas redes sociais.

Gorete chega a culpar Marielle pela própria morte, afirmando que ela “se meteu em causas muito polêmicas e sabia onde poderia chegar”. Além da falta de sensibilidade, a deputada parece também não saber o significado da palavra altruísmo, que deveria guiar as ações políticas.

A parlamentar chega a minimizar o fato de repercussão mundial, alegando que a morte de Marielle foi apenas “mais uma” dentre as milhares que ocorrem no País, que a vereadora não poderia virar “um ícone”, não compreendendo o tamanho do atentato à democracia que a execução de Marielle representa. Em sua fala, critica ainda a posição de Marielle contra a intervenção federal no Rio de Janeiro, dando a entender que a postura tem relação com o crime. A desconfiança existe e é grave. Não pode ser minimizada como faz a parlamentar. Precisa ser investigada.

A vereadora pelo Psol, em seus 15 meses de mandato na Câmara Municipal do Rio, deu mais contribuições que Gorete em sua década e meia de atuação no Congresso. Precisamos de mais Marielles e menos Goretes.

Ítalo Coriolano coriolano@opovo.com.br Editor do O POVO Online



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