O PERFIL DE UM GOLPISTA POR PAULINHO OLIVEIRA
O Cabo Sabino, da chamada "bancada da bala", entrou, na votação do golpe, nos anais da Câmara dos Deputados por uma das muitas expressões ridículas que surgiram naquela sessão. Criou o SPV - Serviço de Proteção ao Voto, fazendo alusão a uma suposta entidade de "inadimplentes" com seu eleitor por votarem contra o impeachment.
Nada surpreendente para um deputado que não tem um bom discurso. Também é um parlamentar limitado. Atua basicamente em favor dos policiais e bombeiros militares, já que ele mesmo é praça da Polícia Militar do Ceará.
Pode ser limitado, mas bobo não é.
Flávio Alves Sabino, nascido em Quixadá, era um ilustre desconhecido, até ser deflagrada a greve dos policiais militares cearenses entre o fim de 2011 e o começo de 2012. À época, era presidente da Associação dos Cabos e Soldados da Polícia Militar do Ceará. A grande motivação da greve eram os baixos salários e as más condições de trabalho dos militares. O movimento despontou a liderança do Capitão Wagner, então suplente de deputado estadual pelo PR.
Por haver participado de uma reunião que discutia a greve - o que, para os militares é proibido pela Constituição, em seu artigo 142, V - Cabo Sabino foi expulso da corporação. Após o fim do movimento paredista em 2012, começou a lutar para retornar à caserna. Em junho de 2014, a Justiça Militar Estadual determinou limimarmente a reintegração de Sabino à PMCE, mas a decisão foi cassada em novembro pelo Tribunal de Justiça. Na decisão, o então presidente do TJCE, desembargador Luís Gerardo de Pontes Brígido, disse que o Cabo Sabino era "moralmente incapaz" para o serviço policial, por "infringir valores e deveres militares", como hierarquia, disciplina, profissionalismo e fidelidade. Em 2015, porém, nova decisão da Justiça Militar determinou o reingresso do Cabo Sabino nos quadros da PMCE. Cabe recurso.
O certo é que a greve de 2011/2012 - flagrantemente inconstitucional e que causou grandes transtornos à população cearense - rendeu capital político. Seu líder maior, o Capitão Wagner, foi eleito vereador em 2012 e deputado estadual em 2014 com votações recordes. Nesse mesmo ano de 2014, o Cabo Sabino foi eleito deputado federal, com mais de 120 mil votos.
A campanha de Sabino foi cara - custou 2,8 milhões de reais. A maior doação - de R$ 77.500,00 - foi feita pela Construtora Sanches Tripoloni. O dono dessa empresa, que tem sede em São Paulo, é Paulo Francisco Tripoloni. Doadora reiterada de recursos para campanhas do PR, a Sanches Tripoloni foi declarada empresa inidônea - ou seja, que rouba dinheiro público - pelo Tribunal de Contas da União em 2009.
Sabino, que afirma trabalhar pelo povo, não só pelos militares, votou contra o projeto de lei que prevê a repatriação de recursos enviados ao exterior sem declaração à Receita Federal. Mas defende o armamento da população com a seguinte frase: "Enquanto o Estado não garantir aos cidadãos que os bandidos estarão desarmados, não podemos permitir que se desarme o cidadão".
Se é para diferenciar "bandido" de "cidadão" - discurso eminentemente conservador -, o Cabo Sabino esbanjou incoerência e corporativismo ao criticar a força-tarefa determinada pelo governador Camilo Santana (PT) para se investigar a Chacina da Messejana, na qual 11 pessoas morreram por ação de 38 policiais militares que já foram indiciados. Sabino disse que deveria também ter força-tarefa para investigar a morte de militares.
Ou seja, se um militar morre, deve ter força-tarefa. Se um militar mata, a força-tarefa é criticada.
Esse é o Cabo Sabino, que é nada mais que o Capitão Wagner na Câmara Federal: trabalho incessante pelos militares, votos questionáveis contra repatriação de divisas, apoio ao armamento da população e corporativismo.
Mas há algo mais nebuloso no Cabo Sabino e sua trupe. Fontes me revelaram que seu grupo político busca aparelhar sindicatos para restringir a atuação da classe trabalhadora. Já haveria dirigentes no Sindicato dos Motoristas e também no dos Vigilantes filiados ao PR dos militares.
O próximo alvo, segundo a fonte, seria o Mova-Se (Servidores Públicos Estaduais).
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