Fortaleza, 06/06/1986
Caro amigo Almir Dutra
O forte laço de amizade que nutro pela sua pessoa, me dá à certeza que não devo somente lhe bater palmas, um gesto de agradabilidade ou de bajulação vulgar, diante do quadro de dificuldades que estar a enfrentar. Impõe-me a sinceridade de dizer-lhe o que ouço e sinto.
Ao sair da chefia do gabinete não como fuga, mas por razões pessoais, chamei-lhe a atenção para mudar os rumos da sua administração, fazendo acertos, mudando peças, em cujos lugares lhe prejudicam e tornam vulnerável o mecanismo de eficácia e eficiência administrativa. Nada mudou, e hoje o quadro parece-me mais angustiante, diante das insatisfações dominantes, inclusive no seio da comunidade maracanauense.
Em dezembro do ano passado, antevendo os dias difíceis que estamos a atravessar, entreguei-lhe o esboço de um projeto de reestruturação administrativa, apoiado na cogestão do poder. Não teve a menor acolhida. O que se viu foi a destruição do ambiente de cordialidade entre os poderes municipais.
Hoje antevejo momentos mais difíceis ainda, pois, os seus adversários, mais organizados, mais apoiados, possuídos de um sentimento comum delineiam planos, metas e estratégias de ação, e vão em frente. Enquanto nós, isolados e desorientados, não estamos sair das armadilhas adredemente preparadas. Não temos comando púnico. Somos levados por sentimentos egoístas e pessoais em certos momentos.
A sua administração está se arruinando, desculpa pela dureza da expressão. Tem ela o repúdio da maioria da comunidade, é tida como corrupta pela maior parcela da imprensa da capital, é difusa na sua organização interna, tem o desagrado da maioria dos seus empregados, exibe o paternalismo de grupos e pessoas, enorme o nepotismo pela ignorância de seus familiares, não tem a solidariedade dos políticos que lhe cercam por se sentirem necessários e uteis.
O que fazer? Mudar.
Mudar o seu estilo de administrar. Organizar a sua ação diária de trabalho, pois, a esfera atual é de um homem desorganizado, desatencioso, estonteado.
Como é duro eu lhe dizer isto. Mas é o que sinto no desejo de lhe ver diferente. Leve, amado e aplaudido, e que ao entregar a prefeitura no dia 1º de janeiro de 1989, seja abraçado e tenha deixado o caminho de volta. Caso está, estamos todos irremediavelmente perdidos.
Como sair?
Mudar. Assim fez o Presidente Sarney e Miterrant, para mostrar os dois executivos que recentemente mudaram a equipe. Sarney mudou os rumos de sua ação administrativa, porque estava caótica e recebia o repulso da opinião pública. Miterrant foi obrigado a orbitar sem ficar distante. Conservando as proporcionalidades, o Governo de Maracanaú só semelhante, porque governará a arte e a ciência de bem gerir a politica.
Muda Almir, mesmo que as mudanças lhe tragam traumas, mas com certeza, em pouco espaço de tempo terá reconquistado a sua verdadeira imagem de liderança comunitária, de politico audacioso, competente, e não a atual imagem de incompetente, comandado e atrabiliário.
Não me condene, pela verdade que lhe digo agora, não me condene se lhe trago desalento, não me condene pela amizade que lhe devoto, e por não lhe ter dito tudo isso.
Sua inteligência deverá estar a serviço da sua grandeza de politico, de administrador, de líder, e de incontestável amor ao povo maracanauense.
Peço desculpas se lhe ofendi, mas desejo lhe ajudar.
Um forte abraço.
Manoel Alcides
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